quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Um amigo do meu pai

Numa vista única: Harmonia Clube, Fábrica Klabin e a Cidade Nova das lembranças boas

Estive junto com familiares no encontro de ex-moradores e naturais de Monte Alegre no último fim de semana. Mais de 110 pessoas acorreram de vários Estados e cidades do Brasil ao animado e emocionado jantar no Harmonia Clube. Dadinho, o ex-locutor e gerente da Rádio Sociedade Monte Alegre, encarregou-se das apresentações e reminiscências da antiga Harmonia. Tão logo ele desceu do palco, fui até ele me apresentar e dizer-lhe que minha trajetória profissional começou justamente quando ele me escolheu entre 22 candidatos para substituí-lo no microfone da ZYS 22 Rádio Sociedade Monte Alegre, 1580 khz - falando do Alto das Oliveiras. Emocionado pelo meu agradecimento sincero, ele disse que voltaria ao palco e me chamaria para falar sobre isso a todos os presentes. E assim ele fez. Relatei minhas andanças pelo mundo falando em microfones tão diferentes como a Rádio Cidade de Curitiba, Rádio Exterior de España e Rádio Holanda Internacional. Falei da busca de minhas origens na Polônia - terra natal de meu avô paterno, Boleslaw e de quanto isto esta ligado às minhas origens em Monte Alegre, como o assassinato de meu pai, quando eu ainda contava com 2 anos e 8 meses de idade.
Fui aplaudido. Mas mais do que isso pude ver no semblante e nos olhos dos que escutaram meu breve depoimento a mesma emoção que eu estava sentindo. Fui interpelado por um dos presentes, antes que eu chegasse na minha mesa. Contou-me que tinha sido amigo de meu pai. Outros vieram até minha mesa cumprimentar-me e relembrar outros fatos relacionados a meu pai Cassemiro (ou Kazio, diminutivo de Kazimierz que se pronuncia como Cajo).
A semana nem começou e a prima Eliane, de São Paulo, também uma Montealegrense que não compareceu ao encontro, envia-me email com mensagem que ela recebeu de outro ex-montealegrense, que por sua vez tinha recebido a mensagem abaixo, daquele amigo do meu pai, que me deu o primeiro abraço depois de meu depoimento no palco daquela noite emocionante do último sábado, na ribeira da represa do rio Harmonia, nos fundos da Fábrica de Papel da Klabin do Paraná.
Este é o relato do amigo de meu pai:

Noite de 28 de agosto de 2010, IX Encontro de Montealegrenses. Evidente que nestas ocasiões fica-se sabendo que alguns amigos passaram para o outro lado do rio da vida após terem realizado os trabalhos de sua missão. É a vida, paciência.
Muitas emoções no reencontro de amigos que não se viam há algum tempo. Abracei muitos amigos e também fui abraçado da mesma forma. Podia ser de amigos presentes e até amigos ausentes. Fisicamente, claro. Explico: o Dadinho, Carlos Eduardo Lago, radialista de voz bonita e dono de uma memória invejável, que foi o locutor da noite, chama outro radialista - e também escritor - para uma narrativa. O rapaz que se apresenta, cujo nome esqueci, faz um relato emocionante e que me deixou intrigado por não poder identificar o personagem a que ele se referia e que fora seu pai e deixara o convívio terreno ainda na sua infância. No final da narrativa ele comenta ser inverdade que o Mineirinho fora o melhor alfaiate e que o melhor fora seu tio o Celso que morava na vila operária. Quando ele disse isto uma chispa de partida foi dada na minha mente e os reurônios começaram a se conectar formando uma rede de informações e já liguei que o Celso tinha uma das irmãs de nome Eunice e que namorara um amigo meu que me tratava com muito carinho. Certifiquei-me com o narrador que ele era filho da Eunice e contei para ele parte da história que ele desconhecia. Seu pai - assassinado – havia sido meu benfeitor. Pelos idos de 1955/56, eu, moleque e engraxate procurava realizar alguns trabalhos na busca de alguns cruzeiros. O Casimiro – um cara elegante e de bom trato – tinha-me como seu engraxate preferido e sempre me dava uma nota de cinco cruzeiros a cada par de sapatos e o preço era dois cruzeiros e ele mandava ficar com o troco. Aos sábados, o Casimiro gostava de levar a namorada ao cinema e como eu era um dos meninos que ficava na fila do cinema para comprar ingressos ele me pedia para compras os dois ingressos e me dava quinze cruzeiros, como o preço era seis cruzeiros o valor total era doze e ele de novo mandava ficar com o troco. Emocionado estava o narrador que falava com saudade de seu pai e emocionado fiquei também por saber que ele falava de um amigo que muito me ajudou e que era um modelo para mim.
Esta vida tem muitos caminhos. E como os caminhos se cruzam. Das emoções que passei na noite de 28 de agosto esta foi a mais forte. E como o mundo é pequeno.

P.S Engraçado... o amigo do meu pai não sabe do meu nome e infelizmente eu também esqueci o dele. Mas pelo menos o nome da esposa, eu lembro: Maria que foi colega de trabalho de minha mãe, quando esta já estava viúva e passava entre uma ligação telefônica e outra falando dos dois filhos que o Kazio tinha deixado para ela criar. Ah! Sim... agora percebo pela mensagem que o amigo do meu pai é o Clodoaldo Duarte, excelente centroavante do time do Palmeirinha, de tardes memoráveis do Campo do Esmaga Sapo.